Intervenções Psicossociais fortalecem caminhos para a adoção de crianças e adolescentes
Profissionais discutem desafios e soluções em palestra sobre direitos, preconceitos e construção de vínculos familiares
Nesta manhã de segunda-feira, quatro profissionais atuantes com projetos de adoção se reuniram em uma palestra para debater o papel das intervenções psicossociais no processo de adoção.
As intervenções psicossociais envolvem práticas que articulam aspectos emocionais, comportamentais e sociais. Elas são aplicadas por profissionais como psicólogos, assistentes sociais e educadores, trazendo consigo o objetivo de promover o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes, apoiar famílias vulneráveis ou em processo de adoção e cuidar da saúde psicológica diante de casos de abandono, violência ou discriminação. Além disso, essas práticas fortalecem vínculos de afeto e respeito à história e ao contexto de cada criança. Entrevistas individuais ou familiares, grupos terapêuticos e acompanhamento psicológico e social fazem parte dessas intervenções.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reconhece crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, e as intervenções psicossociais são ferramentas fundamentais para garantir esses direitos na prática. Elas asseguram a convivência familiar e comunitária (comuns em casos de adoção), além de combater preconceitos e exclusões, especialmente de crianças negras, mais velhas ou com deficiência. Uma das prioridades dessas práticas é dar voz aos adolescentes, respeitando suas opiniões, afetos e visões de família.
Durante o encontro, os participantes abordaram questões centrais que atravessam o processo de adoção no Brasil. Um dos temas mais sensíveis foi a adoção tardia, que envolve crianças mais velhas e adolescentes que permanecem por longos períodos em instituições. Os profissionais destacaram que a institucionalização prolongada pode afetar o desenvolvimento emocional e dificultar a construção de vínculos afetivos duradouros.
Outro ponto levantado foi o racismo estrutural e os padrões estéticos que influenciam diretamente as escolhas de quem deseja adotar. Crianças negras, com deficiência ou fora dos padrões idealizados por muitas famílias acabam sendo ignoradas, mesmo estando aptas para adoção. “A cor da pele ainda é um fator que exclui, e isso precisa ser enfrentado com políticas públicas e formação de consciência”, afirmou uma das participantes.
A conversa também trouxe à tona a prática de separação por grupos, em que irmãos são divididos ou crianças são categorizadas por idade e perfil, o que pode gerar impactos profundos na identidade e no sentimento de pertencimento. Os profissionais alertaram para a importância de respeitar os vínculos já existentes entre as crianças. Por fim, discutiu-se a pluralidade de visões sobre o que é família. Cada criança tem uma história e uma compreensão própria sobre afeto, cuidado e pertencimento.
As intervenções psicossociais ajudam a construir pontes entre essas vivências e os novos laços familiares, respeitando o tempo e o desejo de cada um. Entre as soluções apontadas na roda de conversa, destacou-se a importância de capacitar profissionais que atuam com adoção, garantindo preparo para lidar com histórias complexas e promover vínculos afetivos reais. Os participantes também defenderam ações que ampliem o olhar da sociedade, valorizando crianças e adolescentes fora dos padrões idealizados. A roda de conversa reforçou a importância de olhar para cada criança como única, respeitando sua história e promovendo vínculos afetivos reais, sem idealizar crianças perfeitas – pois a verdade é que crianças e adolescentes desejam, acima de tudo, amor e uma família.
Repórter Júnior: Endrick Rauan De Oliveira Aquino
Monitores: Emanueli Ovelar e Beatriz Fontoura

