Entre Nietzsche e Heidegger: quando a verdade deixa de ser verdade

Postado por: Ariadna Braz

Em um tempo em que as redes sociais moldam realidades e a palavra “verdade” parece cada vez mais frágil, um minicurso realizado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) levantou uma questão que atravessa séculos: o que é, afinal, a verdade? O encontro, intitulado “Nietzsche e Heidegger: o problema da verdade”, foi conduzido pelos professores Dr. Fabrício Santiago e Dra. Nathalia Claro, e reuniu estudantes e curiosos da filosofia para revisitar dois dos pensadores mais influentes e desafiadores da modernidade.

Durante a atividade, os professores apresentaram como Friedrich Nietzsche e Martin Heidegger romperam com a tradição que via a verdade como algo fixo, eterno e absoluto. Nietzsche, por exemplo, enxergava a verdade como uma invenção humana, criada por necessidade moral e social. “As verdades são ilusões das quais se esqueceu que o são”, dizia o filósofo, sugerindo que vivemos cercados por interpretações, não por fatos imutáveis.

Heidegger, por outro lado, foi além. Ele não negou a verdade, mas mudou sua forma de compreendê-la. Para ele, a verdade é um processo de desvelamento – um deixar-aparecer. Chamou isso de aletheia, termo grego que significa “não-escondido”. Nesse sentido, a verdade não é o espelho da realidade, mas a maneira como o ser se mostra a nós, aqui e agora.

Os professores também provocaram o público com perguntas que vão muito além da sala de aula: “De onde vem a possibilidade de dizer que algo é verdadeiro?” “O que acontece quando o ser humano prefere a ilusão ao desvelamento?” Essas reflexões, mais do que conceitos teóricos, apontam para um debate essencial no mundo contemporâneo: a crise da verdade. Em meio a fake news, crenças polarizadas e informações fabricadas, o pensamento desses filósofos se torna atual e incômodo.

No fim, o minicurso não ofereceu respostas prontas – e talvez essa seja sua maior lição. Nietzsche e Heidegger lembram que a verdade nunca foi um objeto a ser possuído, mas um caminho a ser trilhado. Um caminho que exige coragem para olhar o que está por trás das aparências e humildade para admitir que, muitas vezes, o que chamamos de “verdade” é apenas o espelho das nossas próprias ilusões.

Repórter Júnior: Endrick Rauan De Oliveira Aquino

Monitores: Emanueli Ovelar e ⁠Beatriz Fontoura

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